30 novembro, 2010

A publicidade dentro da publicidade dentro da publicidade

A Unilever lançou nos EUA uma campanha publicitária para seis de suas marcas - entre elas o sabonete Dove e a maionese Hellmann’s - inspirada em Mad Men. Os comerciais foram veiculados no canal AMC durante a quarta temporada da série.


No lugar da agência fictícia Sterling Cooper Draper Pryce de Mad Men, temos a igualmente fictícia Smith Winter Mitchell, onde uma dupla de criação tenta em 60 segundos criar campanhas para as marcas do cliente Unilever. O clima, é claro, é de paródia, e os personagens do comercial são versões caricatas dos personagens da série. Mas a temática e o visual, desde a iluminação até o figurino, é extremamente similar a da série. O filme do sabonete Dove brinca inclusive com a idéia da secretária transformada em redatora, no mesmo estilo do personagem de Peggy Olson.

Se pensarmos que Mad Men já se utiliza de caricaturas de tipos específicos de uma época, então os personagens da campanha da Unilever seriam caricaturas de caricaturas. Temos aí um exemplo da TV fazendo uma paródia de si mesma. Só que não contextualizada dentro do próprio programa, como fazem frequentemente as comédias Os Simpsons, South Park, 30 Rock, ou Curb Your Enthusiasm (com a badaladíssima reunião do elenco de Seinfeld). Desta vez o texto não está dentro do texto, está fora dele, mais especificamente no intervalo comercial, que por sua vez está patrocinando o horário e tornando possível a transmissão da série.

Este efeito de eco faz lembrar a imagem do infinito descrita pela personagem Sally Draper no 12º episódio da 4ª temporada de Mad Men. A embalagem de manteiga da Land O’Lakes dentro da embalagem da Land O’Lakes dentro da  embalagem da Land O’Lakes... Mais uma vez temos o jogo de espelhos da publicidade, que é tema da série, e agora, tema também dos patrocinadores da série.

De acordo com Stuart Elliott do jornal New York Times, os comerciais da Unilever tiveram o efeito esperado. Expectadores assistindo a série através de DVRs (Digital Video Recorder) como TiVo e outros, que tendem a utilizar o comando fast forward para pular os blocos comerciais, acabaram pressionando rewind e assistindo os comerciais, pensando tratar-se da própria série.

A técnica não é nova. Nos anos 1960s os Cigarros Winston - que patrocinavam Os Flintstones na rede ABC - utilizavam-se dos personagens do desenho animado nos comerciais da marca.


Seria esta a solução para driblar os DVRs que ameaçam a publicidade tradicional na TV? No lugar do merchandising dentro programa, o programa dentro do merchandising? Ou, parafraseando Sally Draper, “a embalagem dentro da embalagem dentro da embalagem”. Talvez não seja Don Draper afinal, mas sim sua filha, o verdadeiro gênio da propaganda.

27 novembro, 2010

Call For Papers:"Transmedia Adventures of Sherlock"

A coletânea de artigos The Transmedia Adventures of Sherlock tem como foco principal a representação do personagem através do tempo e da mídia. A evolução do contexto de produção de Sherlock, desde a primeira versão de Arthur Conan Doyle em 1882 até chegar à minissérie Sherlock (2010) da BBC, que traz o personagem para a realidade high-tech do século XXI, mas mantém aspectos visuais da Londres vitoriana e revisita temas frequentes como a ambiguidade sexual do personagem e sua dependência química.
A coleção irá ainda considerar artigos que examinem a influência do diretor da série, Steven Moffat (responsável também pelo revival do clássico britânico Doctor Who); os contextos cross-media e cross-culture de produção e circulação da série (co-produzida com os EUA); e a convergência das comunidades de fãs derivadas de múltiplas mídias e gerações, com variados níveis de envolvimento e participação.

25 novembro, 2010

“She's dead. Wrapped in plastic.”

Episódio de abertura de Twin Peaks está na Usina do Gasômetro

Esta é para matar a saudade de um ícone da TV que em 2010 fez 20 anos. O episódio piloto da cultuada série Twin Peaks será exibido nesta sexta-feira 26 de novembro, às 19h15min na Sala P. F. Gastal, dentro da mostra Avalanche.

No primeiro episódio da série, assinada por David Lynch e produzida por Aaron Spelling de 1990 a1991, o corpo abandonado da jovem Laura Palmer (Sheryl Lee) é encontrado, e o ecêntrico agente do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan) é chamado à cidade de Twin Peaks para investigar o brutal assassinato. “She's dead. Wrapped in plastic”, diz o homem que a encontra. Tem início um desfile de situações bizarras e personagens excêntricos, típicos da mente genial de David Lynch.

A pergunta “Quem matou Laura Palmer?” inquietou fãs no mundo inteiro, inclusive no Brasil, quando estreiou em 1991 na Globo, logo após o Fantástico. Mas os fãs brasileiros sofreram pelo fato da emissora ter suprimido episódios e depois cancelado a série.

Alguns autores consideram Twin Peaks um divisor de águas na história da televisão mundial. Em 1990 não era comum ver na TV aberta americana uma obra desta densidade, com personagens complexos, trama flertando com o místico, trilha sonora de altíssima qualidade (assinada por Angelo Badalamenti) e um tom um tanto sinistro para o horário das 9 da noite na ABC. Não levou muito tempo para Twin Peaks ser elevada ao padrão de cult. E estava nascendo um novo tipo de fã, mais devotado e exigente, com um olhar mais refinado, pronto para acolher uma linguagem mais cinematográfica na televisão. O caminho estava aberto para a dramaturgia de qualidade na TV.

22 novembro, 2010

A TV conquista Scorsese


Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Martin Scorsese fala de seu novo filme Peeping Tom, e do sucesso de Boardwalk Empire, série que produz para o canal a cabo HBO (além de dirigir o primeiro episódio). Comenta inclusive sobre a possibilidade de desenvolver uma prequel de Os Bons Companheiros para a televisão.



“As somebody with such a profound sense of cinema, it's surprising that some of Scorsese's recent successes have been on television, a medium which he has credited with providing ‘What we had hoped for in the mid-60s, a kind of freedom and ability to create another world with the luxury of the long form of developing character in a story’. Most notably, his project for HBO, Boardwalk Empire, has become a popular and critical hit in the States.”

“Screenwriter Nicholas Pileggi has been hinting that a TV prequel to Goodfellas is also in the pipeline, a prospect which Scorsese admits: ‘It’s possible. I don't know yet. But we're talking to [Goodfellas producer] Irwin Winkler about it’.”

Leia na íntegra o artigo de Mark Kermode no The Guardian.

19 novembro, 2010

Sally Draper, zen master

Sally: The dream felt like going to heaven, except I don’t believe in it.
Glen: You don’t? Then what happens when you die?
Sally: It doesn’t really bother me, except it’s forever. When I think about forever I get upset...Like the Land O’Lakes Butter, that has a picture of an Indian girl holding a box, that has a picture of her on it, holding a box with a picture of her on it holding a box, and on and on.
                                                         
(Mad Men, temporada 4, episódio 12)

 
Sally Draper é sem dúvida um dos personagens revelação de Mad Men, e a atuação da atriz-mirim Kiernan Shipka merece crédito. É da boca dessa garota de 10 anos, espremida entre uma mãe que não a compreende e um pai que não tem tempo para ela, que saem alguns dos comentários mais lúcidos e sutis da 4ª temporada da série. Como o insight descrito acima.
Parte da primeira geração a crescer em frente à TV, Sally referencia-se na mitologia pop para ilustrar conceitos como os de mortalidade e de eternidade. Sua idéia de infinito não vem de um conto infantil, ou uma fábula de Esopo (a fábula O Vento Norte e o Sol de Esopo é citada por uma mulher adulta no episódio seguinte). Nada disso. A referência que Sally utiliza vem da propaganda, mais especificamente da embalagem de uma marca de manteiga (real, diga-se de passagem, o que mostra o brilhante trabalho de pesquisa).

A embalagem da Land O’Lakes mostra uma índia segurando uma embalagem de Land O’Lakes com uma índia segurando uma embalagem de Land O’Lakes com uma índia... e assim por diante, ad infinitum. A imagem remete à idéia de bonecas russas, do universo infinito. Ou talvez remeta ao próprio jogo de espelhos que é a publicidade.

Crescendo em meio aos turbulentos anos 60, Sally definitivamente já tem os olhos atentos para o psicodélico. Não é difícil imaginá-la daqui a alguns anos vivendo em San Francisco com flores no cabelo, e rejeitando o status quo que o próprio pai, Don Draper, ajudou a perpetuar.

Clique aqui para ver o efeito da embalagem em movimento, feita originalmente pelo blogger godofpizza.

17 novembro, 2010

Dica de Livro: "Finale - Ends of Television Series"

Image by Atypyk
O episódio final de Lost em Maio de 2010 foi incontestavelmente um dos eventos mais badalados na história da televisão. Mas apesar de ter se intensificado na era digital, isto não é um fenômeno tão recente. O finales de séries de TV já causavam enorme comoção desde os anos 1970. Eles tornaram-se "espetáculos culturais" conforme descrito por Joanne Morreale em seu ensaio sobre o final de Seinfeld. No Brasil eles podem ser comparados ao último capitulo de uma novela, com a diferença de que uma série pode ficar no ar por cinco, seis ou mais anos, e consequentemente o engajamento do público é bem maior.

O livro Finale -- Ends of Television Series, que reúne ensaios escritos por acadêmicos ingleses e americanos, pretende examinar como funciona a relação do público com o término do seu show favorito. Serão abordados seriados que fizeram história nas três ultimas décadas, desde M*A*S*H e Twin Peaks até Arquivo X, Life On Mars, Família Soprano, Sex and the City e muitos outros.

De acordo com o editor do livro, David Lavery, da Tennessee State University, os finales de séries nos fascinam porque “mexem com nossas identidades imaginadas, nossas obsessões, nossas formas particulares de leitura, enfim, nosso fascínio com a televisão”. É o adeus final, a simbólica despedida que antecede um período de luto que é diretamente proporcional ao envolvimento do fã com a série.

O livro será lançado em 2011 nos EUA.

Curso Martin Scorsese: Cinema, Fé & Violência


A Cena UM promove mais um curso de especialização em cinema e crítica. Depois dos mestres Hitchcock e Woody Allen - e várias oficinas de roteiro - é a vez de examinar a obra de Martin Scorsese. O curso será ministrado pelo crítico Rodrigo Fonseca, do Jornal O Globo.
As aulas serão nos dias  17, 18 e 19 de  novembro, das 19h às 21h30min, no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa em Porto Alegre.
Inscrições e mais informações no site da Cena UM.

A Clockwork Orange: The Power of Music

Por Sheron Neves, mestre em História do Cinema e TV e doutoranda em Estudos de Televisão pela Birkbeck, University of London

(Paper apresentado em Out/2003 na Birkbeck, University of London, e em Out/2009 na UNIPLI, Centro Universitário Plínio Leite, RJ)

As Stanley Kubrick remains one of the most original directors of the 20th century, it can be argued that A Clockwork Orange remains not only one of his most polemic works but also one of his most ingenious ones.
One of the main characteristics in Kubrick’s cinema is the power of music, one of the aspects in which he is most unique and inventive. The soundtrack in his films serves as more than a mere background accessory, it participates actively in the narrative, and in the case of ACO the music is practically one of the characters, adding new aspects and making comments on the images shown, and sometimes it might even tell a different story from the one being told by the narrator and main character, Alex.

In ACO the music performs a crucial role, and when added to the extreme stylization of images, we are granted a film in which music and image walk so closely together that it is practically impossible to separate one from another.

To portray all the violence presented in Anthony Burgess’ novel, both implicit and explicit, Kubrick chose refinement over obvious objectivity. Thus violence and sex are shown in a theatrical form, accompanied by a powerful musical score, and the scenes are sometimes so exaggerated that instead of violence we see a representation of violence, and instead of sex we see a representation of sex. This aspect is easily spotted in scenes like the “menage a tróis” in Alex’s bedroom (a unusual sex scene which Kubrick chooses to depict in fast motion), the rape of the young girl by Billyboy’s gang, and the fight between Alex and his “droogs” at the marina, where the use of Rossini´s La Gazza Ladra helps to add a rather farcical mood for the scene.

16 novembro, 2010

Scala and Kolacny Brothers II

O canal TCM (Turner Classic Movies) da Alemanha fez um trailer para promover o filme Laranja Mecânica utilizando também o coral Scala and Kolacny Brothers.

Apesar de nada se comparar a extraordinária trilha sonora de Walter Carlos, neste caso talvez seja possível fazer uma concessão pela engenhosidade. A música cantada pelo Scala é um cover de Hier kommt Alex (Aqui vem Alex), da banda punk alemã Die Toten Hosen, que em 1988 compôs um álbum em homenagem ao personagem Alex DeLarge de Laranja Mecânica. O refrão diz:

“Hey, here comes Alex, and there's nowhere left for you to go. Hey, here comes Alex, yes it's true, your darkest nightmare, horrorshow.”




Assista ao promo da TCM 



Scala and Kolacny Brothers

As séries House (Fox) e Downton Abbey (ITV), além do filme The Social Network, tem um elemento em comum. Scala and Kolacny Brothers na trilha sonora. Scala é um coral belga formado apenas por garotas, que ficou conhecido por gravar belos covers de canções pop como Every Breath You Take, Creep e You Can’t Always Get What You Want, e acabou caindo nas graças dos produtores de Hollywood e da TV mundial. Abaixo o link para dois trailers:



Downton Abbey








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