31 janeiro, 2012

Como adaptar um clássico literário para a TV, por Andrew Davies


Em sentido horário: Little Dorrit, Bleak House, Tipping the Velvet,
He Knew He Was Right, Little Dorrit, Orgulho e Preconceito

Andrew Davies. O nome não soa familiar? Pense numa adaptação de um clássico literário, uma daquelas extraordinárias produções de época que a televisão inglesa - em especial a BBC - sabe fazer com incomparável competência. Lembrou de alguma? Pois é muito provável que tenha sido adaptada para a telinha por Andrew Davies, um dos mais requisitados e bem sucedidos roteiristas quando o assunto é adaptação de clássicos da literatura britânica. Entre seus vários trabalhos destacam-se:

House of Cards (1990), Emmy de melhor roteiro
Middlemarch (1994), WGA de melhor roteiro
Orgulho e Preconceito (1995), WGA de melhor roteiro
Emma (1996)
Bleak House (2005), BAFTA de melhor roteiro
Little Dorrit (2008), Emmy de melhor roteiro
South Riding (2011)

Aqui estão 10 dicas deste premiado roteirista sobre como adaptar um clássico literário para a TV, publicadas no jornal The Telegraph e traduzidas abaixo:

1. Leia e releia o livro. Mergulhe na história, nos personagens, na língua, nas emoções que a obra faz emergir. Só assim você poderá detectar as passagens ideais para dramatizar, e aquelas que darão um pouco mais de trabalho.
2. Pergunte-se: por que este livro, e por que agora? Muitos livros lidam com temáticas atemporais, relevantes através dos anos. Um romance que se passa nos EUA durante a Grande Depressão do final dos anos 20, por exemplo, pode ter muitos paralelos interessantes com a atual crise econômica mundial, por exemplo. Em The Way We Live Now, que se passa na Inglaterra de 1875, usei o famoso discurso “A ganância é boa” de Gordon Gekko do filme Wall Street como referência para uma fala de Melmotte, um personagem ganancioso e trapaceador.
3. Pergunte-se: sobre quem afinal é essa história? Nem sempre é óbvio. Em Orgulho e Preconceito, Jane Austen conta a história do ponto de vista de Liz Bennet. Mas a história é também sobre a jornada de Mr. Darcy. Então eu permiti que a audiência visse Darcy a sós, ou com outras pessoas que não Liz, para que também o conhecem e o compreendessem melhor. 
4. Não tenha medo de fazer mudanças, principalmente na abertura da história. Na ficção literária, especialmente nos clássicos de época, os primeiros parágrafos costumam trazer com um texto mais brando, para introduzir a história ao leitor de forma mais suave. Na TV precisamos abrir com uma cena visualmente (e emocionalmente) forte, causar uma forte impressão imediata, para prender a audiência.
5. Não comece sem ter um plano. Tente começar com uma idéia clara de quantos episódios terá, e como cada um deles terminará, qual será o “gancho”. Conceber a estrutura de uma história seriada é uma das tarefas mais difíceis, especialmente se baseadas em textos extensos e enredados como Bleak House e Vanity Fair.
6. Nunca use uma fala se puder alcançar o mesmo efeito com um olhar. Uma das cenas mais tocantes da minissérie Orgulho e Preconceito, por exemplo, é quando Liz salva a irmã de Mr. Darcy de um momento embaraçoso na sala de música de Pemberley. Nenhuma fala poderia ser mais eficiente do que o olhar trocado pelo casal naquele momento.
7. Reduza os diálogos, mantenha a essência do autor. Sem dúvida os diálogos são importantes, em especial quando produzidos por talentosos escritores. Mas às vezes é possível preservar a essência do texto usando somente os melhores trechos.
8. Por que escrever cenas que não existem no original? Simples, porque a ficção na TV é muito diferente da literária. Às vezes é preciso inventar cenas inteiras para amarrar melhor a historia, e neste caso é importante cuidar para que os diálogos soem naturais, ou seja, que conservem o tom do autor.
9. Evite voice-overs, flashbacks e personagens falando direto para a câmera. Este tipo de recurso pode “roubar” uma cena, transferindo a atenção da trama para o recurso em si. Tendo dito isso, confesso que já usei os três recursos. E com o ator certo dirigindo-se para a câmera, como o brilhante Ian Richardson em House of Cards, o resultado pode ser fantástico.
10. Quebre as regras quando sentir que é a coisa certa a fazer.



29 janeiro, 2012

De volta para o futuro

Imagens que podem causar um certo estranhamento em quem é fã de Mad Men. Harry Crane é introduzido à tecnologia digital? Don Draper e Pete Campbell trocam o uísque por um mocaccino da Starbucks? E sem um Lucky Strike para acompanhar? Os anos 60 nunca mais serão os mesmos...


28 janeiro, 2012

Séries que ficaram marcadas na memória - e na pele - dos fãs


Já escrevi muitas vezes aqui sobre o comportamento dos fãs, e quem me conhece sabe que este é um assunto que me fascina. Tenho um carinho todo especial pelos fãs de TV, não só porque me incluo no grupo, mas porque tamanho fervor instiga minha curiosidade de pesquisadora. Para esta turma, uma série não é apenas um programa qualquer na tela na TV. É um lifestyle, uma forma de se definir, uma fonte de inspiração - e de aspiração. A expressão "vestir a camiseta" para eles (ou melhor, para nós) tem outro sentido. Até porque a camiseta, o boné ou a adesivo da série ficaram no século passado. Hoje os fãs estão optando por uma marca bem mais definitiva: a tatuagem. E, ao contrário do que se costuma pensar, não só só os fãs de ficção científica. As séries dramáticas, comédias e animações também aparecem em braços, pernas e costas pelo mundo afora. Arrependimentos? Quem sabe alguns se envergonhem de sua escolha daqui há uns dez anos. Outros talvez carreguem sua tattoo com orgulho para o resto da vida. E alguns, bem, talvez para alguns falte espaço no corpo para tanta paixão.

Sucessos dos anos 80 e 90: Alf e Um Maluco no Pedaço


Também dos anos 90: a inesquecível Twin Peaks


Arquivo X e Buffy, A Caça Vampiros


Entre as animações, Os Simpsons e South Park (abaixo)



A clássico da BBC, Doctor Who


Duas séries veneradas pelos sci-fi fans: Lost e Star Trek


Os deliciosos vampiros da HBO: True Blood 


Outra do gênero sci-fi: Supernatural, sucesso entre os teens

----------------------------------------------------------------------------------------
Interessado em marketing de experiência, segunda tela, engajamento de fãs e na aplicação da narrativa transmídia e do storytelling na comunicação de sua empresa? Então dá uma conferida no curso STORYTELLING E TRANSMÍDIA PARA MARCAS da Escola de Criação ESPM-Sul. Matrículas abertas.
----------------------------------------------------------------------------------------

25 janeiro, 2012

Dedo na ferida: cartaz de Mad Men gera críticas

O cartaz promocional da 5a temporada de Mad Men tem causado polêmica nos EUA. Algumas pessoas têm se sentido ofendidas pelo fato dele remeter a uma perturbadora imagem do 11 de setembro: a do Falling Man (como ficou conhecida na mídia, após estampar a capa de jornais no mundo inteiro).

O cartaz, super minimalista, não menciona o nome da série. Mostra apenas a silhueta do homem em queda (a mesma da vinheta de abertura) e a data 25 de março. Uma escolha bastante ousada da emissora AMC, que certamente está contando com o fato de que o público está suficientemente familiarizado com a iconografia da série.

A foto do homem jogando-se do World Trade Center - assim como das outras duzentas pessoas que pularam do prédio em chamas naquele dia - é sem dúvida uma dolorosa lembrança gravada na memória de todos nós. Como comentou
Mark D. Thompson, “a imagem mais poderosa do desespero no início do século XXI talvez não seja encontrada na arte, literatura ou na música, mas sim em uma única fotografia.”

Entretanto, quem assiste a Mad Men sabe que a série é, na sua essência, um olhar pós 11 de setembro sobre a fábula do sonho americano. Não é à toa que a vinheta de abertura da série explora justamente a imagem do império em declínio, através de uma versão estilizada da trágica imagem do falling man. Por isso mesmo é um tanto surpreendente que após cinco anos do lançamento da série este tipo de manifestação ainda exista.


Detalhe da vinheta de abertura da série

É importante lembrar que não estamos falando de uma comédia, ou de um programinha de TV de mau gosto explorando as famílias das vítimas. Não. Estamos falando de um dos dramas mais inteligentes, densos e maduros da história da televisão mundial.

Sim, a imagem do cartaz de Mad Men pode ser chocante. Pode ser que traga lembranças que todos estão tentando apagar. Mas como um bom psicanalista, Matthew Weiner não nos deixa esquecer. Ele nos convida a explorar o passado para que possamos entender o presente.
E a ferida, pelo jeito, segue fresca.




22 janeiro, 2012

Retrailers: parodiando a fórmula


Lost: comédia romântica inocente?

Para quem não sabe, um retrailer (ou recut trailer) é uma paródia do trailer de um filme ou série de TV, alguns feitos por profissionais, outros feitos por amadores munidos de equipamento básico de edição. A brincadeira gira em torno de mudar o gênero original, usando cenas do filme/série mas mudando o tom da narração, a trilha sonora e o ritmo da edição. Incrível como alguns pequenos ajustes podem transformar um family movie da Disney em um sinistro filme de horror. E séries dramáticas tensas como Breaking BadLost podem virar romances açucarados ou sitcoms.

A onda começou em 2005, quando um concurso realizado pela Creative Editors Independent Association gerou o hilário retrailer de uma obra prima do terror, The Shinning (O Iluminado). Criado por Robert Ryang, o vídeo acabou vencendo o concurso e viralizando. 


O colunista Marc Karo do Chicago Tribune lembra que estas remontagens “revelam o quanto os trailers se transformaram numa ferramenta de marketing totalmente formulaica”. E sugere: “Ao invés de colocar advogados atrás desse pessoal, os estúdios devem criar trailers que não sejam um prato cheio para a paródia”. De acordo com o Wikipedia, como são "transformações" de conteúdos originais, estes vídeos não estariam – teoricamente - infringindo as leis de direitos autorais.

Abaixo alguns dos retrailers mais populares na rede:



BREAKING BAD - Sitcom style:


LOST - Wonder Years style:




LOST - Baywatch style:




SEINFELD - Thriller style:




FERRIS BUELLER'S DAY OFF - Indie drama style:




THE SHINNING - Comedy style: 




TAXI DRIVER - Romantic comedy style:



MARY POPPINS - Horror style:

19 janeiro, 2012

Sobre o laugh track: do adoçante ao bizarro

Será que existe alguém sentado na frente da TV, assistindo a um episódio de Modern Family, The Middle, 30 Rock, The Office, Parks and Recreation, ou Curb Your Enthusiasm, e pensando: “Puxa, bem que esta série poderia ter uma laugh track...” Duvido. Porque este recurso não faz mais sentido para a audiência contemporânea. Muito pelo contrário, ele tende a afastar alguns nichos do público. Foi o que testemunhei recentemente ao observar um grupo de jovens assistindo The Big Bang Theory. Entre este grupo, o comentário era exatamente o oposto: “Esta série ficaria bem melhor SEM laugh track...”

Claro, séries clássicas, que tanto amamos, como Seinfeld e Friends, tiveram sua dose de sweetening (como é chamado pelos produtores, justamente por injetar uma pitada de “açúcar” nas cenas que nem sempre têm o efeito esperado com a live audience). Mas isso era nos anos 90 (lembrando, é claro, começou lá nos anos 50). Hoje o público está mais maduro, sofisticado, e seria melhor para todos se as emissoras se convencessem de uma vez por todas que estamos prontos para pedalar sozinhos sem as rodinhas traseiras. O público ficaria grato, assim como os atores e roteiristas de qualidade. Afinal, sem a pitada de açúcar, as piadas precisariam ser REALMENTE engraçadas.

Quer saber onde o laugh track funciona de verdade? Em dramas. Esqueça o adoçante. O “efeito bizarro” é bem mais poderoso, como já provaram Oliver Stone em Natural Born Killers (1994), e David Lynch em Rabbits (2002). Nestes filmes, os diretores usaram a risada de fundo para fazer um comentário sobre o absurdo da cena.

Quer fazer uma experiência? Então assista aos vídeos abaixo, e veja como uma laugh track pode mudar o sentido e provocar um estranho desconforto quando aplicada sobre dramas como Lost, Dexter e Breaking Bad.  





Por que a TV atrai cada vez mais nomes consagrados do cinema?

Reproduzo aqui minha entrevista publicada no Segundo Caderno do jornal Zero Hora, em 11/01/2012. Link original aqui.


---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Zero Hora — Por que razão muitos nomes conhecidos e com a carreira em alta no cinema estão investindo em projetos na TV?
Sheron Neves – A TV não é mais o destino de artistas em fim de carreira, como se costumava pensar. Muito pelo contrário. Para os atores, ela hoje oferece a oportunidade de fazer algo mais desafiador e gratificante, além de uma média de 10 horas por temporada para desenvolver um personagem. O mesmo vale para produtores, diretores e roteiristas, que encontram na TV por assinatura total liberdade para experimentar, criar tramas densas e explorar temáticas tabu.

ZH – Canais por assinatura dos EUA, como HBO, Showtime e AMC, são as grandes referências nesse modelo de produção?
Sheron – HBO (Game of Thrones, Boardwalk Empire, True Blood) e Showtime (Dexter, Homeland) são sem dúvida as grandes referências, por serem canais premium (mais caros que o pacote básico) e não dependerem de anunciantes, e sim de assinantes. Por isso seus executivos não se acovardam com a possibilidade de o público não entender ou se ofender com algo. Já a AMC (Mad Men, Breaking Bad, Walking Dead) e a FX (Nip/Tuck, Damages, American Horror Story) são um meio termo: são canais a cabo e têm um público seleto, entretanto dependem de anunciantes e por isso estão atrelados aos índices de audiência.

ZH – Esse patamar de qualidade é possível de ser alcançado apenas na TV por assinatura ou poderia ser aplicado na TV aberta?
Sheron – Alguns vanguardismos ficam, é claro, restritos à TV por assinatura premium e à TV pública. Ambas podem se dar ao luxo de correr riscos por não precisar agradar anunciantes. Mas, obviamente, este novo patamar de qualidade acaba respingando na TV aberta, numa espécie de efeito cascata. O fato de um personagem complexo como House ser um sucesso estrondoso da TV aberta é prova deste efeito. A TV por assinatura criou mafiosos (Tony Soprano), psicopatas (Dexter), traficantes (a Nancy de Weeds) pelos quais nos apaixonamos, porque enxergamos (ou ao menos queremos enxergar) o lado humano deles. House é um típico personagem da TV por assinatura, mas que nasceu na TV aberta justamente devido a estas mudanças. Já no Brasil, os excelentes seriados Capitu e Clandestinos mostraram que existe espaço para produtos mais inteligentes e inovadores. Outra influência da TV por assinatura é o crescimento de comédias sem as tradicionais risadas de fundo (em inglês, "laugh track") da TV aberta, como The Office, Modern Family e 30 Rock. O sucesso destas séries prova que o público não quer mais tudo mastigado, um recurso tão antigo quanto I Love Lucy.

ZH – Dado ao padrão variado de gêneros, de Mad Men a The Walking Deade ao melodrama Mildred Pierce e ao fabular Game of Thrones, seria possível traçar um perfil de qual é o tipo de produção que pode dar certo ou não?
Sheron – Não acredito que exista uma fórmula de sucesso. O importante é não subestimar a inteligência da audiência, não ficar preso a fórmulas, e focar em personagens interessantes e multifacetados. A tendência é existir cada vez menos espaço para o velho maniqueísmo folhetinesco da luta do bem contra o mal.

ZH – Quais atrações vocês destacaria, entre as recentes e as nem tanto, como responsáveis por elevar a TV a um novo padrão de qualidade e por que razão?
Sheron – Algumas pessoas comentam que ano desta transição foi 1990 com Twin Peaks, de David Lynch. Twin Peaks foi sem dúvida um caso raro, assim como Riget, a bizarríssima série escrita e dirigida por Lars von Trier para a TV dinamarquesa no início dos anos 1990. Elas são consideradas (felizes) acidentes de percurso por muitos autores, mas a maioria considera A Família Soprano (1999), da HBO, o marco zero oficial. Na carona de Tony Soprano vieram Sex and the City e A Sete Palmos, e pela Showtime a versão americana de Queer as Folk, seguida de The L Word e Weeds. A maturidade do público, que é hoje bem mais exigente e crítico, pode ser apontada como uma das causas para esta transformação. Alguns autores também citam o fator prestígio. A partir da virada do século, a TV por assinatura começou a receber uma enorme quantidade de prêmios e a gerar muito buzz na mídia. A ideia da TV como algo desprezível e alienado começou a desaparecer, passando a ser vista pela primeira como arte. Não foi por acaso que a HBO adotou o slogan: "Não é TV. É HBO". Se a HBO não é TV, então quem consome também não é qualquer telespectador. O prestígio se transfere do produto para o consumidor: "Se consumo HBO então sou parte de uma elite, tenho capital cultural". Uma estratégia de marketing brilhante.

ZH – Essa realidade é uma tendência com prazo de validade ou tende a se consolidar?
Sheron – Sem dúvida, esta tendência deve muito ao fato do cinema estar cada vez mais comercial. As produções independentes e mais autorais encontraram na TV fechada um porto seguro. Se você escutar os discursos de agradecimento durante os prêmios Emmy e Globo de Ouro vai escutar: "Obrigado HBO por acreditar" dezenas e dezenas de vezes. Vivemos um momento único na história da televisão, e não é a toa que existe um boom de cursos de graduação e pós-graduação nesta área no hemisfério norte, e a tendência vem aos poucos chegando ao Brasil. O mesmo acontece com publicações e livros acadêmicos nesta área. O que ainda falta aqui é mais espaço na imprensa para debater a TV de forma inteligente, uma crítica mais especializada, como ocorre nos grandes jornais internacionais. Quanto mais informado o público estiver, maior é a chance de torcer o nariz para programas banais.

ZH – Ainda faz sentido usar as distinções linguagem cinematográfica e linguagem televisiva?
Sheron – Esse assunto é polêmico e já foi tópico de longas discussões acadêmicas. Não há dúvida que a TV tem se apropriado da linguagem e da estética cinematográfica (altos valores de produção, narrativa mais lenta, personagens e finais ambíguos), mas o elemento que sempre irá diferenciar os dois é a narrativa serializada. O arco da história em um episódio de uma hora na TV aberta é diferente do arco em um episódio na TV fechada, que por sua vez sempre será diferente do arco de um filme de duas horas.

ZH – Poderia se afirmar que é mais fácil identificar um público alvo numa produção para a TV fechada e mirar direto nele sem fazer concessões?
Sheron - A televisão, infelizmente, ainda produz muito lixo, mas o cinema também o faz, assim como a indústria fonográfica e o mercado editorial. A TV não é sozinha responsável pela banalização cultural. E, assim como em todos estes mercados, existem nichos específicos para os quais certas coisas funcionam melhor. Mas não confio muito em segmentações etárias, sociais, ou regionais, pois podem ser rótulos um tanto simplistas e excludentes. Produtores de TV não deveriam presumir o que o público gosta com base nestes rótulos. Com as mídias sociais cresce cada vez mais a necessidade de se levar em conta o perfil psicográfico (baseado nos valores e estilo de vida e menos em fatores demográficos). Quando pessoas se agrupam online, seja através de comunidades de fãs ou nas redes sociais, elas não o fazem baseadas em idade, raça, ou gênero. Elas o fazem em torno de interesses e aspirações. O mesmo vale para o que elas assistem.

ZH –A rede britânica BBC tem um longo histórico de produções de alto nível para a TV, com presença de grandes atores. Dá para comparar com o padrão americano ou o foco deles é, digamos, mais clássico?
Sheron – Não sei se clássico, mas certamente é mais compromissado com a cultura. No Reino Unido, a TV tem um DNA completamente diferente da americana, pois já nasceu pública, e só teve que enfrentar concorrência comercial anos depois. A BBC é literalmente sustentada pelos cidadãos britânicos, através de uma taxa obrigatória que equivale a aproximadamente 350 reais por ano, somente para ter uma TV ligada em casa. Desta forma ela tem um compromisso com o público, e leva a sério seu lema "educar, informar e entreter". Outra grande diferença é que os britânicos sempre foram mais tolerantes em relação a temas tabu, e as tramas tendem a ser bem mais realistas e menos açucaradas. Já nos EUA, a TV nasceu comercial, com os patrocinadores ditando as regras dos programas desde o início. Como o foco sempre esteve nos níveis de audiência, tramas complexas e narrativas mais lentas nem sempre encontram ali um terreno fértil. O excessivo moralismo da sociedade americana também é determinante. Skins, por exemplo, é uma série inglesa que mostra adolescentes tendo relações sexuais e consumindo drogas. No seu país de origem é transmitida às 22h em canal aberto sem grandes problemas. Já nos EUA, Skins causou tamanha polêmica e boicotes pelo PTC (Parents Television Council) que a maioria dos anunciantes cancelou o patrocínio por medo de prejuízo nas vendas e na imagem da empresa. Por isso muitos remakes de séries britânicas não funcionam na TV aberta americana (com raras exceções como The Office).

10 janeiro, 2012

INFOGRÁFICO: A evolução do mercado televisivo

Excelente infográfico desenvolvido pela G+, que ilustra com vários detalhes as inúmeras transformações pelas quais a TV vem passando nos últimos anos, como a TV Social, a interatividade e o poder dos DVRs (Digital Video Recorders). Segue abaixo um resumo dos pontos mais relevantes. Se preferir ver o infográfico completo, clique aqui para ser direcionado para o link original.



---------------------------------------------------------------------------------------------
que um filme ou uma série de TV precisa para se tornar uma experiência genuinamente imersiva para a audiência? Venha saber no curso intensivo Narrativa Audiovisual Imersiva na PUCRS, de 6 a 9 de maio de 2013. Matrículas abertas. Vagas limitadas.
---------------------------------------------------------------------------------------------

03 janeiro, 2012

Mais arte feita por (e para) fãs de cinema

Já escrevi antes sobre a Reelizer, uma espécie de galeria de arte virtual que reúne cerca de 500 trabalhos de fan art de ilustradores obcecados por cinema. Não se tratam de cartazes oficiais de filmes, mas reinterpretações feitas por fãs (que muitas vezes superam os originais). Selecionei cinco cartazes que na minha opinião se destacam dos demais pela originalidade e qualidade. Se quiser ver mais é só visitar o site aqui.


Artista: Dale Murray

Artista: Claudia Varosio

Artista: Sixlightyears

Artista: Sixlightyears

Artista: WeBuyYourKids
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...