15 dezembro, 2010

TV por assinatura versus TV aberta – Parte 1: Cães, attention span e o caso de Lone Star

Um dos assuntos que mais geraram discussão na última Flow, a conferência sobre estudos de televisão que acontece todo ano na Universidade do Texas, foi o diferença cada vez mais gritante entre a dramaturgia da TV aberta e da TV paga.

O cancelamento brutal de Lone Star, do canal Fox (nos EUA um canal de TV aberta), após só dois episódios, foi considerado um exemplo deste crescente distanciamento. Apesar da qualidade da produção (assista aqui ao trailer), do elenco que incluía o legendário Jon Voight, e dos elogios da crítica, a série teve baixa audiência e não sobreviveu, à mesma moda de Pushing Daisies e FlashForward, ambas da ABC. Se tivesse sido produzida por um canal a cabo, teria tido o mesmo destino?

O criador de Lone Star, Kyle Killen, participou de um debate durante a conferência, no qual se argumentou que métodos como os índices de audiência, utilizados pela TV aberta para medir o sucesso de um programa, são “impiedosos”.

Killen, que segue tentando vender os direitos do drama para outro canal, usou uma curiosa analogia para explicar o abismo entre os dois tipos de televisão: "A TV por assinatura é como uma pessoa com uma arma na cabeça do seu cão, e ameaçando atirar caso você não consiga entretê-la. A TV aberta também é como uma pessoa com uma arma na cabeça do seu cão, ameaçando atirar caso você não consiga entretê-la, MAS A DIFERENÇA é que se esta pessoa se sentir entediada ou perder a atenção POR MAIS DE 2 MINUTOS, o seu cão está morto."

Trata-se de uma forma interessante de exemplificar a dificuldade de se criar drama suficientemente atraente para a TV aberta americana, onde os níveis de audiência ditam o que vai ou não ser cancelado, independente da qualidade e da quantidade de críticas positivas.

Já nos canais a cabo, especialmente HBO e Showtime, que não dependem de anunciantes e sim de assinantes, existe maior liberdade para arriscar e dar tempo para a trama se desenvolver. Nestes canais (chamados “premium cable” por serem mais caros que os pacotes básicos), não há a necessidade de agradar patrocinadores, mas sim assinantes. Como a perfil demográfico destes assinantes tende a ser de renda mais alta e com melhor educação, eles teriam uma maior tolerância para histórias densas e tramas mais lentas e complicadas. Desta forma, há mais chances do cãozinho da analogia de Killen sobreviver: o público da TV paga parece ter uma maior capacidade de concentração.

Amanhã:
TV por assinatura versus TV aberta Parte 2: “Times they are a-changin”

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