Artigo
originalmente postado no blog O Café.
@ChristinaP887: AJUDEM-ME. EU FUI SEQUESTRADA. LIGUEM
PARA A POLÍCIA. ISTO NÃO É UMA BRINCADEIRA. ESTOU REALMENTE ASSUSTADA.
Com este tweet, em 25 de
julho de 2011, ChristinaPerasso deu a largada neste que é um dos projetos
transmídia mais elaborados (e sinistros) da década. Inside, que
está programado para “concluir” hoje, é um thriller interativo patrocinado
pelos gigantes Toshiba e Intel, onde as redes sociais são parte integral da
trama.
Christina
(Emmy Rossum) é uma jovem de Seattle que é sequestrada. Sem ter como escapar,
sua única forma de contatar o mundo exterior é através de um laptop, deixado
ali pelo seu captor, que quer que ela use a Internet para pedir ajuda. Através
das redes sociais ela contata a sua mãe, Cathy, as
amigas Emma e Jennifer,
além de Kirk (o
misterioso ex-namorado) e um detetive particular. Novos personagens vão
surgindo, postando mensagens, fotos e vídeos no Facebook, Twitter e YouTube, e
todos eles interagem com o público (na primeira semana a página de Christina no
Facebook conquistou mais de 20.000 seguidores). Em Inside, o
público é convocado a ajudar, tornando-se assim parte da trama, costurada por
uma série de enigmas sobre o passado da protagonista e complexas charadas que
têm deixado muita gente acordada na madrugada, na tentativa de decifrá-las
juntamente com participantes de fusos horários diversos.
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Comentário aterrorizado da mãe de Christina ao reconhecer a foto da filha no background do bilhete. |
A idéia central é
experimentar o conceito de cinema social – destaco aqui o verbo “experimentar”.
Afinal, todas as vezes que iniciei uma conversa sobre o tema, me deparei com
uma questão linguística: qual o verbo certo? “Você está assistindo?” Não é bem
o caso. “Você está jogando?” Também não. Afinal, não se trata de cinema no
sentido literal, pois é seriado e participativo (e nem está listado entre os
trabalhos de Emmy Rossum no IMDB).
Mas também não chega a ser uma websérie, apesar de todos os episódios estarem
online. Por isso talvez o verbo mais adequado, ao menos por enquanto, seja
“experimentar”, como o próprio slogan já diz.
Chame
de experiência social, ficção colaborativa, transmedia storytelling,
inteligência coletiva, ARG, gamificação, twittertainment, branded content,
chame do que quiser, buzz words não faltarão. Mas sejam quais forem as
terminologias usadas, uma coisa é certa: “We’re not in Kansas anymore”,
como diria Dorothy no Mágico de Oz.
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Mais uma pista sinistra deixada pelo sequestrador. |
Inside
é uma forma
de produzir e consumir entretenimento própria desta época, que está sendo
chamada de “era da imersão”. Somos participantes ao invés de espectadores,
somos produtores de conteúdo e não apenas consumidores. As linhas divisórias
entre conteúdo e marketing, narrador e audiência, nunca estiveram tão
embaralhadas. Estas novas narrativas participativas (que ensaiaram seus
primeiros passos na campanha de lançamento do filme Batman – O Cavaleiro das
Trevas) nos convidam a mergulhar em um faz de conta virtual, e como
Dorothys às avessas, batemos três vezes nossos sapatinhos vermelhos. Não para
voltar ao mundo real, mas sim para escapar dele. No lugar dos sapatinhos,
precisamos apenas de uma conexão, um username e uma rede de contatos –
exatamente as três coisas que o sequestrador de Christina Perasso permite que
ela tenha acesso.
E tamanho foi o envolvimento gerado pelo projeto que um fan video acaba de ser postado no YouTube. Trata-se de um tributo, onde participantes de diferentes localidades agradecem às marcas Intel e Toshiba pela incrível experiência. Assista ao vídeo abaixo.
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